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domingo, 19 de abril de 2009

Livro discute a sexualidade de pessoas com deficiência

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O Beijo. A pintura do artista Gustav Klimt desvela uma sexualidade em mosaico, sempre latente, que requer uma decifração. Uma reprodução da mais importante obra do pintor austríaco enfeita a sala da casa de Ana Rita de Paula, co-autora do recém-lançado livro Sexualidade e Deficiência: Rompendo o silêncio. E é mais ou menos assim o tortuoso caminho para as pessoas com deficiências conseguirem vivenciar a experiência erótica: tantas vezes vistas como assexuadas, seus desejos tentam ser decifrados, descobertos, aceitos e vivenciados.

Ana Rita parou de andar aos oito anos em decorrência da síndrome de amiotrofia espinhal, doença congênita e progressiva. A vida na cadeira de rodas, ao contrário do que se possa julgar à primeira vista, foi muito libertadora: "fiquei super animada quando ganhei minha primeira cadeira de rodas. Era a possibilidade de voltar a me locomover", afirma. Hoje ela faz pós-doutoramento no Instituto de Psicologia da USP e já acumula uma série de prêmios por sua militância a favor das pessoas com necessidades especiais: em 2001 recebeu o Prêmio USP de Direitos Humanos; em 2004, o Prêmio Direitos Humanos da Presidência da República e, no ano passado, o Prêmio da Revista Cláudia como mulher de maior destaque no país na categoria "políticas públicas".

A revolução sexual da segunda metade do século XX e todo o movimento histórico de fazer do sexo o fruto permitido não contemplou na prática todas as pessoas. Com uma linguagem acessível, Sexualidade e Deficiência: Rompendo o silêncio leva para dentro (e fora) de casa e da sala de aula um tema que é um verdadeiro tabu. Segundo o Censo de 2000, 24 milhões de brasileiros (ou 14,5% da população) possuem algum tipo de deficiência física ou mental. É no mínimo estranho a sociedade pensar que tanta gente assim é desprovida de sexualidade. No caso de a deficiência ser mental, ocorre o inverso. "Aí eles são vistos como perigosos e descontrolados, sendo que suas condutas são resultado da segregação que sofrem", aponta Ana Rita. Para ela, deficientes mentais devidamente esclarecidos se comportam da mesma maneira que qualquer outra pessoa.

Corpo: limites e possibilidades
A sexualidade assume a importância de inserir a pessoa no mundo. "Negá-la para uma pessoa é privá-la da própria condição humana", afirma Ana Rita. Porém, a experiência erótica não pode ser desvinculada do cotidiano dos indivíduos. É no espaço em que são possíveis as relações sociais que as pessoas podem conhecer seus parceiros. Historicamente se construiu um ciclo vicioso: a sexualidade inclui o deficiente em sua condição humana e na sociedade mas, para ser plenamente exercida, ela só é possível se já houver um certo nível de inclusão. Asilados em casa ou instituições especializadas, pessoas com deficiência acabam se tornando "estrangeiros" em seus corpos e em sua sexualidade. Ao isolar seus filhos na tentativa de protegê-los contra frustrações amorosas, os pais muitas vezes contribuem para a perpetuação desta lógica de exclusão.

Segundo a psicóloga, não existe deficiência que anule o desejo sexual: "o desejo é da ordem da subjetividade, e o orgasmo é um fenômeno bio-psíquico. Ainda que algumas deficiências (como a lesão medular) possam afetar a sensibilidade vaginal e peniana, outras regiões do corpo podem despertar o prazer", afirma Ana Rita. Ao enxergar todo corpo como passível de erotização, está o desafio de ir contra uma cultura que concentra o prazer somente nos órgão sexuais e reduz a sexualidade ao sexo. O corpo da pessoa com deficiência geralmente é um espaço associado apenas à limitações. Cirurgias e processos de reabilitação reforçam a idéia de consertar algo estragado. Assim, a passagem de um corpo manipulável para um corpo desejado é uma trajetória difícil e, muitas vezes, inconclusa. A dificuldade se potencializa com o imaginário masculino acerca da mulher ideal - e suas formas "perfeitas".



Sexualidade e Deficiência: Rompendo o silêncio


Na sala de aula
O livro traz também subsídios para o professor lidar com educação sexual na escola. A partir do entendimento da sua própria sexualidade, tenta-se ampliar nos alunos a compreensão das necessidades das pessoas com deficiência. O primeiro passo, por exemplo, consiste em o professor fazer um levantamento do grau de informação que os estudantes têm a respeito das deficiências.

Por meio de recursos como desenhos, discussões, dinâmicas, relaxamento e músicas, as atividades em sala de aula pretendem desenvolver a consciência corporal e a sensibilização para o afeto e prazer como partes da sexualidade. A proposta é que estudantes com e sem deficiência interajam no mesmo espaço. O educador então passa a acompanhar o aluno em suas descobertas, propiciando as condições para que ele construa sua cidadania. Indispensável também é o diálogo com os pais, que devem ser aliados do processo educativos de seus filhos.

Serviços:

Sexualidade e Deficiência: Rompendo o silêncio
Ana Rita de Paula, Mina Regen e Penha Lopes
Ed. Expressão e Arte
124 páginas
R$ 14,00

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