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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sexo é tabu para 70% dos pais com filhos que tenham deficiência intelectual


EM FAMÍLIA - Valentina não herdou a deficiência intelectual do pai, Fábio,
nem a síndrome de Down da mãe, Gabriela

A sexualidade de uma pessoa com deficiência não é, em essência, diferente da que não tem deficiência, porém as vicissitudes das relações que envolvem a sexualidade e, o próprio sexo, entre essas pessoas e entre elas e as pessoas sem deficiência são diferentes, requerendo, portanto, um olhar livre de barreiras atitudinais, como os de propagação, deslocamento e outros que inibem, dificultam ou mesmo impedem o direito do livre exercício da sexualidade, do amar, do ser amado e do fazer amor por essas pessoas.
Pessoas com deficiência têm direito ao sexo seguro, à maternidade ou paternidade e a tudo mais que envolve a sexualidade, desde sempre na vida de uma pessoa.
Logo, temos de cuidar para que essas pessoas recebam as informações necessárias para que aprendam e apreendam as normas sociais sobre a sexualidade e suas relações ainda que, reconheçamos que tais normas sociais são, por vezes hipócritas.
O que não mais podemos aceitar é que pessoas com deficiência fiquem sujeitas à discriminações escondidas sob o manto da “defesa” dos interesses, da saúde e da segurança da pessoa com deficiência.

Encontrado em:http://revistaepoca.globo.com
http://blog.disdeficiencia.net

VEJAM MAIS SOBRE sexualidade de filhos com deficiência Intelectual em :http://agenciainclusive.wordpress.com/2009/05/19/sexo-e-tabu-para-70-dos-pais-com-filhos-que-tenham-deficiencia-intelectual/

Sexo é tabu para 70% dos pais com filhos que tenham deficiência intelectual
Maio 19, 2009 · No Comments

Uma pesquisa realizada com 145 pais de deficientes intelectuais descobriu que 70% deles não orientam os filhos sobre sexualidade. O resultado disso são pessoas mais vulneráveis ao não uso de preservativos, além de terem mais chances de sofrer abuso sexual. O estudo foi feito no final do ano passado pela Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais (Avape), em São Paulo. A situação se torna ainda mais grave quando confrontada com o fato de que esse grupo é constantemente vítima de abusos sexuais. Somente em um grupo de 18 deficientes da Avape que participam de discussões sobre sexo, oito admitiram ter sofrido algum tipo de abuso.

De acordo com a associação, a maioria dos casos é cometida por pessoas próximas das vítimas, como vizinhos, familiares ou amigos de parentes que frequentam a casa. O agravante é que são indivíduos com atraso intelectual e muitos não conseguem se defender do assédio. “São ingênuos. É preciso orientação até que desenvolvam a habilidade de perceber a malícia no outro”, comenta a psicóloga Denise Teixeira Carvalho, que lida com o grupo Relações Afetivas e Sexualidade da Avape.

Entre os 30% dos pais que passavam alguma orientação sexual aos filhos, o assunto mais abordado era gravidez. Falar de doenças sexualmente transmissíveis, masturbação e uso de preservativos é algo que passa despercebido no cotidiano familiar. A principal barreira está na cabeça dos próprios pais. Além de não conversarem com o filho, têm medo de denunciar os casos de violência sexual. Entre os oito deficientes da Avape que foram vítimas de abuso sexual, nenhum deles teve o caso levado à polícia. “Há casos até de homossexualidade sem que seja essa a opção sexual da vítima. Na verdade, o aliciador o induz”, completa Denise.

Em Salvador, pelo menos dois casos nesse perfil estão sob os cuidados da promotora Silvana Almeida, do Grupo Especial de Atuação em Defesa dos Direitos de Pessoas com Deficiência (Gedef). “O abuso sexual ao deficiente acontece do mesmo modo que com as crianças. São oferecidos presentes e carícias até o crime ser cometido. E depois, ameaçam para não contar nada”, disse a promotora.

Abuso – Uma família que sofre com o problema é a da vendedora autônoma Lurdes*, 56 anos, mãe de Luciano*, de 20. Ele nasceu com uma síndrome causadora de déficit de aprendizagem e lapsos de memória. Desde julho do ano passado, Luciano mudou de comportamento. Agressividade e aversão a escola (antes um local para momentos de distração) começaram a fazer parte de seu perfil.

O motivo da mudança foi descoberto três meses depois, quando Lurdes foi ajudar no banho do garoto e ele se lamentou de dores e ardência no ânus. “Foi um choque. Luciano contou detalhes, disse o nome do agressor e tudo aconteceu dentro da escola”, alerta, após confessar que falar de sexo nunca foi comum com o filho.

Um exame médico confirmou o abuso sexual, mas outras dificuldades surgiram na hora de prestar queixa na delegacia. Luciano não teve coragem de falar nada na frente do delegado. A única esperança de sua mãe é que a psicóloga do MP consiga a confissão, que será utilizada no inquérito policial. “Não quero dinheiro, indenização, nada…só quero fechar a escola. Eu soube de outros casos desse tipo por lá, mas os pais têm vergonha de denunciar”, comenta Lurdes.

Orientação – A pesquisa da Avape descobriu que 98% dos pais gostariam de ter um local para discutir sobre como orientar a sexualidade do filho deficiente. Na Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Salvador, por exemplo, são comuns relatos sobre as dificuldades de falar sobre sexo. De acordo com a psicóloga da instituição, Nilma Freita, o tabu familiar é prejudicial ao próprio deficiente. “São pessoas que irão desenvolver a sexualidade mais cedo ou mais tarde. Por isso desde criança é preciso mostrar como é seu corpo e construir nele a percepção de como lidar consigo mesmo e com os outros. É estabelecer limites de convivência social e não achar que só por serem deficientes não existe a vontade sexual”, explica.

Se tivesse seguido esses conselhos, a costureira Vera Lúcia Reis, 46 não teria levado um susto no início deste ano, quando seu filho Deleon Oliveira, 22, narrou com detalhes a sua primeira experiência sexual com a namorada de 17 anos. Portador de deficiência mental leve e distúrbio de comportamento, Deleon foi criado sem orientação nesse campo. A mãe achava que o filho sequer entendia sobre isso, apesar de ser sempre cortejado pelas meninas da escola voltada para deficientes.

“Fiquei chocada. De boa aberta. Ele ainda disse como usou a camisinha que estava na carteira”, assinala. Desde então, Deleon e sua mãe passaram a ser acompanhados por profissionais da Avape que orientam sobre meios de lidar com o assunto. Hoje falam sobre tudo e sua preocupação constante é mostrar ao filho como se defender de assédio indesejado, além de ter a consciência sobre os riscos de uma gravidez indesejada e DSTs. “E ainda tem pais que fazem questão de não participar de reuniões que sejam para debater sobre sexo. Não adianta, a sexualidade do filho vai aparecer e é preciso orientar”, finaliza.

*Nomes fictícios para preservar a identidade da fonte

Fonte: http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=1148645

Categorias: Notícias

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