A Seleção Brasileira paralímpica de natação encerra, neste domingo, a disputa do Mundial da modalidade em Montreal, no Canadá, com lugar mantido no rol das potências mundiais. Poucas empresas poderão se beneficiar dos frutos desse trabalho, que prometem ser maximizados para os Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Na opinião do presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Andrew Parsons, isso ocorre porque a iniciativa privada ainda é “míope” em relação ao esporte adaptado, uma condição que a entidade tem expectativa de mudar nos próximos anos.
Só na natação, por exemplo, o CPB investe cerca de R$ 5 milhões por ano, cifra que é aumentada pelo apoio de programas feitos pela Caixa Econômica Federal, governo do estado de São Paulo e do governo do estado do Rio de Janeiro. É nessa modalidade que está boa parte dos grandes destaques do esporte adaptado e é ela, que com seu grande número de medalhas distribuídas, faz do Brasil um país no top 10 da Paralimpíada. No orçamento anual de R$ 100 milhões da entidade, a presença da iniciativa privada é ínfima.
“São sempre as mesmas empresas, e poucas dispostas a investir do próprio bolso. Gostaria que a iniciativa privada se desse conta do potencial do esporte. O do paralímpico talvez seja mais evidente porque tem bons resultados, é vencedor, e evidentemente tem um gancho social muito grande, com valores como superação”, afirmou Andrew Parsons, escolhendo com cuidado o termo usado para definir a questão: “é uma grande miopia da iniciativa privada em relação ao potencial do esporte, e mais ainda em relação ao esporte paralímpico”.
Isso não significa que o CPB tenha dificuldades no dia-a-dia da preparação dos atletas de alto nível. Pelo contrário. A Paralimpíada Escolar, por exemplo, é maior do que o Mundial de natação disputado em Montreal. Muitos dos atletas que competem no Canadá caíram na água com o físico definido por 20 dias de treinamento em um centro especializado em San Luis Potosí, no México. Até os Jogos de 2016, as perspectivas são boas, já que o programa de patrocínio do CPB e do Comitê Organizador é um só – o que garante acesso a mais recursos, embora haja limitação, já que são os organizadores do evento que fazem a gestão.
“O CPB tem feito escolhas muito acertadas nos investimentos, mesmo sem tanto recurso assim. Muito recurso é novidade. Em Pequim 2008, ficamos em 9° lugar com R$ 77 milhões no ciclo todo. É difícil conseguir esse resultado”, exaltou Andrew Parsons, que exaltou o modo como a entidade conseguiu desenvolver o esporte adaptado. Em Londres 2012, por exemplo, subiu para a 7ª colocação geral. A expectativa para 2016 é de ficar em 5º lugar. “É gestão. Não é segredo, mas é algo que a gente faz com alguma competência”, afirmou. Para depois da próxima Paralimpíada, a situação vai mudar, mas não necessariamente para pior.
Bonança pós-2016 inspirada em Londres 2012
“Tem gente que acha que 2017 vai ser um ano de preocupação, com diminuição de investimentos. A gente acha que vai isso vai migrar: serão mais recursos privados e menos públicos”, afirmou o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro. As amarras da entidade com os patrocinadores da Paralimpíada vai acabar e haverá flexibilidade de negociação. Além disso, espera-se um bom desempenho dos atletas , aliado à participação da população. “A campanha brasileira mais o fato de ter vivenciado os Jogos vai fazer com que a iniciativa privada dê um salto nessa direção”, disse Andrew.
A precisão é baseada na experiência de Londres em 2012. Segundo o dirigente, sete patrocinadores específicos dos Jogos renovaram com a British Paralympic Association, enquanto que, com a British Olympic, esse número foi de apenas um. “Nós mandamos gente para o Reino Unido para conversar com essas empresas e entender por que elas resolveram ficar no esporte paralímpico”, contou o presidente do CPB. A resposta se resume ao fato de o cenário ser favorável: há necessidade de menos dinheiro para mais retorno, com contrapartida social grande. Assim como será no pós-2016.
O repórter viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro
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